sábado, 10 de outubro de 2009

VOAR

Quando Marina era pequena, não lembro bem que idade ela tinha, nós descíamos para ficar brincado. Ás vezes no parquinho, mas principalmente para desfrutar do espaço livre. O vento era uma coisa gostosa e ninguém ficava de cabelo arrumado, parecia que a empurrava de tão forte que era e por ela ser pequena e magrinha eu achava que ela podia cair.


Marina abria os braços e corria, corria, corria, corria sem parar. Depois de tanto correr e um tanto quanto cansada, ela vinha me abraçar com uma carinha de triste e me confessava baixinho o que estava fazendo: Estou tentando voar! Vou de novo! Após muitas tentativas, dava para sentir que ela estava preste a chorar, tamanho era seu desapontamento. Eu sempre dizia: Continue tentando! Você consegue! Vá lá! Mas ha cada tentativa um desapontamento. Mesmo assim, eu dizia: Acredite! Se você acreditar que pode, você voa! Percebi que ela foi desanimando, desanimando com tantas tentativas. Cheguei pra ela e disse: Quando for dormir, você vai sonhar voando porque você está tentando fazer isso aqui, e lá, você vai controlar. Não sei se ela entendeu.


Depois vendo um desenho das meninas super poderosas ela me chama e diz qual das três meninas era ela e que queria voar como aquela do desenho. Tentei reforçar a idéia do sonho novamente, não sei se ajudou.


Com o passar do tempo ela foi ficando descrente da idéia, passou a achar que não pudesse fazer o que tanto desejava. Parece que já não acredita mais.


Fico pensando o que eu poderia ter oferecido para que ela se sentisse encorajada a buscar, a investir, no que tanto queria. Como eu poderia ter ajudado? Como?


Hoje ela não fala mais que quer voar. Minha intuição me diz que ela é uma águia, mas pensa que é uma galinha.


“O poeta sonhou que era borboleta. E como borboleta ele sonhava que era ser humano e surgia a dúvida...”

4 comentários:

  1. Oi Jaque!
    Muito interessante esse texto (para mim o melhor de todos). Que grande dilema: cortar as asas a utopia ou alimentar as teias da ilusão... Confesso que não sei se há uma resposta única para essa situação. Quem sabe um dia Marina e eu possamos encontrar respostas possíveis em meio a sua nobre aspiração. Bruno

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  2. Você entendeu perfeitamente meu dilema Bruno!

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  3. Tão lindo este texto, jaque. Fiquei sem palavras...acho que um dia ela vai entender a dimensão do seu vôo.

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