segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Luto é um processo, não um evento

Luto é um processo, não um evento

MARIA HELENA PEREIRA FRANCO
ESPECIAL PARA A FOLHA

HOJE, A SAUDADE nos leva a visitar a relação que tínhamos com nossos queridos que faleceram.
Essa visita nos fala ou relembra aquilo que dá significado à vida para muitas pessoas: a existência de um vínculo forte com alguém que, quando rompido, gera o luto. Falar de luto hoje é falar das nossas possibilidades de fazer, desfazer e refazer laços.

Não podemos falar com precisão sobre uma sequência de fases do luto. A pessoa enlutada, com frequência, encontra outras que adotaram crenças rígidas sobre o que deve ser experimentado nessa jornada ao longo do luto.
Essas crenças podem afetar profundamente o processo individual natural. Podemos encontrar respostas de desorganização, medo, culpa mas também podemos não encontrá-las. As emoções podem seguir-se umas às outras com intervalos curtos ou até mesmo duas ou mais emoções podem estar presentes ao mesmo tempo.

Cada pessoa fica enlutada de sua maneira. O luto é uma experiência pessoal e única.
Como resultado dos valores contemporâneos, as pessoas enlutadas são encorajadas a rapidamente deixar para trás o luto. Como resultado, temos duas situações: ou o enlutado vive seu processo isoladamente ou se força a abandoná-lo, antes mesmo de tê-lo completado. Amigos e familiares, bem-intencionados, mas desinformados, tentam fazer com que a pessoa enlutada desenvolva autocontrole, entendendo que essa é a resposta adequada.

As pessoas se perguntam quanto tempo dura o luto, como uma confirmação de que estão no caminho certo. Essa pergunta é diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal.

O luto passa a ser visto como algo a ser evitado, e não como algo que precisa ser vivido e que trará possibilidades de reconstrução. Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão.
Viver o luto não significa passar por ele, significa crescer por meio dele, para renovar o senso de confiança e a energia, para reconhecer a realidade da morte e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O luto é um processo, não um evento.

Além de entender na mente, vai entender no coração: a pessoa amada morreu. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda para se transformar em um sentimento de perda que pode ser admitido e que dá vez a um significado e um propósito renovados.

Embora a pessoa que morreu jamais venha a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. A perda é para sempre, o luto não.

MARIA HELENA PEREIRA FRANCO é psicóloga, professora titular da PUC-SP e coordenadora do LELu (Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto), da mesma universidade.

sábado, 28 de novembro de 2009

Alguns nós de R. Laing

Alguns nós

Eu não me sinto bem
portanto eu sou mau
portanto ninguém me ama.


Eu me sinto bem
portanto eu sou bom
portanto todos me amam.


Eu sou bom
Você não me ama
portanto você é mau.
Logo, eu não te amo.


Eu sou bom
Você me ama
Portanto, você é bom.
Logo, eu te amo.


Eu sou mau
Você me ama
Portanto, você é mau.
_______


Minha mãe me ama
Eu me sinto bem
Eu me sinto bem, porque ela me ama.


Eu sou bom, porque eu me sinto bem
Eu me sinto bem, porque eu sou bom
Minha mãe me ama, porque eu sou bom.


Minha mãe não me ama
Eu me sinto mal
Eu me sinto mal, porque ela não me ama.


Eu sou mau, porque eu me sinto mal.
Eu me sinto mal, porque eu sou mau.
Eu sou mau, porque ela não me ama.
Ela não me ama, porque eu sou mau.


Referências LAING, Ronald. Knots, S.L:London, 1972.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MODOS DE MACHO - Mulheres que dizem fim

Mulheres que dizem fim

Sex, 27 Nov

Xico Sá*


Como se dizia mui antigamente, deu na imprensa, reproduzo: as mulheres estão pedindo mais a separação do que os homens. Coisa séria. Reflita: dados sobre registro civil divulgados na última quarta-feira (25/11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, em 2008, 71,7% das separações não consensuais - ou seja, um quer, mas o outro não - foi pedido por mulheres.

Aproveito e reabilito uma velha tese. Velha, porém minha. Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e vírgula; jamais um ponto final.

Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: "Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar..." Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro da convivência. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

Sem reticências...

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita. O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até fugir para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor. Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro. O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Nem no Crato...nem em Estocolmo.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o "the end" sem uma quebradeira monstruosa. Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava. O mais frio, o mais "cool" dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por aí assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo. O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

& MODINHAS DE FÊMEA

Chama a atenção na mesma pesquisa, citada na cumeeira desta crônica, como as gaúchas, em parelha com as catarinenses, são as mulheres que mais buscam na Justiça a separação. Só na Paraíba, mulher-macho-sim-senhor, os homens são maioria no mesmo tipo de atitude legal, porém dolorosa, barraquista e cruel.

Faz favor, seu garçom, tem aquela clássica de Jane e Herondy? Sim, "não se vá", toca pra gente, play it again, Sam! Aumenta o volume que estou caindo fora. Beijos e até a próxima.

* Xico Sá, 46, é autor de "Modos de macho & modinhas de fêmea" entre outros livros. Nasceu no Crato, Cariri, cresceu no Recife e hoje ronda a noite paulistana em busca de fábulas e crônicas. Fale com ele pelo e-mail


domingo, 22 de novembro de 2009

Freud - Do blog de Vanessa - http://meudivaenacozinha.blogspot.com/

Entrevista com Freud


– Sempre me pareceu que a psicanálise desperta em todos aqueles que a praticam o espírito da caridade cristã. Não há nada na vida humana que a psicanálise não nos permita entender. E tudo compreendido é tudo perdoado.
Freud, segundo o repórter, enfureceu-se:
– Pelo contrário. Entender não é perdoar. A psicanálise não apenas nos ensina o que temos de suportar, também ensina o que temos de evitar. Nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância do mal não é, de maneira nenhuma, uma consequência do conhecimento.

(Entrevista feita pelo jornalista americano George Viereck, em 1930)

sábado, 21 de novembro de 2009

Bem resolvido ou mal resolvido?


O comportamento ‘divertido’ pode parecer uma forma fácil de aproximação com as pessoas. Às vezes ele esconde, por meio de uma alegria forçada, a revelação de quem realmente somos.

A aproximação com as pessoas é falseada por bom humor ou num auto-astral que transforma quem se esconde nessa postura engraçada num sujeito popular.

Ser engraçado é uma forma de manter os outros interessados em si, já que essa é a forma de realizar o desejo de proximidade com os outros.

Adquire-se assim uma reputação de bom papo, bem humorado, alegre, animado, alto-astral, pessoa com auto-estima elevada, festivo, muito mais que tudo isso existe uma ‘necessidade’ se ser divertido.

Não vejo nada errado em ser divertido e em se divertir, isso é muito bom! Passa uma leveza no semblante de quem tem um coração alegre. Mas quando se deseja fazer um contato e daí compartilhar um relacionamento afetivo, esse comportamento deverá ser transformado.

Haverá um momento em que não caberá mais se esconder em um personagem vivido e reconhecido por todos e o tempo todo como a pessoa que está de bem com a vida, aquele que parece não ter problemas, e se tem, ele sabe conduzi-los ou administrá-los de forma magnânima. Chega a causar inveja e curiosidade o seu comportamento. Parece que isso incomoda as pessoas, e assim não é desejável que se seja tão feliz.

Esse personagem que se esconde e minimiza os sentimentos de maneira evasiva não terá mais lugar em algum momento quando não quiser ficar mais sozinho.

Há de falar da dor que está sentindo. Falar da vida com seriedade. Nesse momento assume-se o risco de se revelar.

O que poderá acontecer quando for inevitável ter que se mostrar? O que, ou quem poderemos ver?

Não é fácil deixar um repertório social, criado exatamente para ser o que todo mundo conhece! Se não for assim, como teremos intimidade? Provavelmente isso gere angústia, medo, ansiedade. Toda essa mudança causa certa tensão.

Mas, se pensarmos que tudo é impermanente, que tudo muda o tempo todo, que não existem garantias de nada, poderíamos ser mais abertos, permitir nos mostrar e não ter medo de amar. Qual será o momento que poderemos mostrar e liberar nossos sentimentos verdadeiros se não agora?


domingo, 15 de novembro de 2009

A Vida é um Sonho

A vida é um sonho, e geralmente preferimos não acordar.

Estava me afogando e achava que ia afundar sozinha, procurava loucamente ajuda, mas ao contrário do que eu poderia esperar, meu companheiro não via o que me acontecia, embora estivesse olhando pra mim.

Talvez se eu gritasse, ele pudesse ouvir meu pedido de socorro... Queria que ele me notasse, lesse em meus olhos, ouvisse meu coração que batia alto e acelerado. Mas era como se eu não existisse. Meus braços agitados, meu grito engasgado, meu semblante de pânico, nada o mobilizava. Penso que mesmo que eu gritasse, falasse, tocasse, nada... Nada mesmo, que eu pudesse fazer seria entendido como pedido de ajuda, nada o faria perceber toda minha angustia, nada o faria me ver. E assim, fui afundando, sozinha, até chegar ao fundo do mar. Morei no fundo do oceano por muito tempo, tive que me acostumar com o gosto do sal. Aprendi tirar proveito disso.

Muito, muito, muito tempo depois entendi que não estávamos no mesmo lugar, nem no mesmo tempo, não havia vínculo. E a pessoa que eu via não era a pessoa que eu conhecia e eu não era a pessoa que ele via. Nunca nos encontramos. Foi uma vivência não compartilhada. Nada aconteceu.


domingo, 1 de novembro de 2009

Dentro de mim

Tem um momento em que ficamos sós.

Só terei eu comigo.

Meus pensamentos transitam como um jogo e tento pará-los.

Esvazio-me de tudo, não quero pensar.

Aquieto-me, não brigo mais.

Escuto sons. Pequenos sons, perto, loooonge, bem distante.

Procuro não pensar que estou pensando.

Não quero conduzir o que estou sentindo. Entrego-me.

Enfim consigo. Sem pensamentos. Sem conceitos.

Assim, tudo sou eu.

Não estou aqui.

Sinto uma rápida e profunda alegria.

Tudo pára, porque o sino toca.

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